quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Ocupando os primeiros espaços


Jogos da Diversidade iniciaram boom no esporte LGBTQIA+
(Reprodução: Site oficial)

Para a grande maioria das pessoas, a primeira cor que vem à mente quando se fala no Parque do Ibirapuera é o verde, mas, em 17 de junho de 2017, o Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, vizinho desse cartão-postal da capital paulista, foi tomado por todas as cores da bandeira LGBTQIA+.

Nesse dia foram realizados os Jogos da Diversidade de São Paulo, iniciativa que fez parte da programação oficial da Parada do Orgulho LGBT+ da cidade realizada em parceria entre o Comitê Desportivo LGBT do Brasil e a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo com apoio da Secretaria Estadual de Esporte, Lazer e Juventude e apoio institucional da Federação dos Gay Games - sobre a qual você vai saber mais em breve aqui no blog.

Além de modalidades consagradas como futebol, futsal, handebol, natação e voleibol, a participação se estendia a carteado, bilhar, dança, a popular gaymada e uma aula livre de zumba, reunindo não apenas pessoas identificadas com os valores da inclusão e da diversidade, mas também grupos que criavam espaços para que pessoas LGBTQIA+ praticassem o esporte que amam de forma mais leve, harmoniosa e livre de preconceitos. Poucos, no entanto, faziam ideia de que aquele torneio seria o embrião de um grande movimento que tomaria todo o país.

FOMENTO À INCLUSÃO

A história dos grupos participantes dessa primeira competição entre equipes esportivas inclusivas começou a ser desenhada em 2015, quando o Comitê teve participação decisiva na criação de uma delas.

“O Natus FC nasceu a partir de um projeto do Comitê Desportivo LGBT do Brasil para a criação e fomento de equipes de futebol, com encontros onde pessoas LGBTQIA+ praticavam o esporte em um clube esportivo público. O mesmo projeto foi realizado para handebol e voleibol, mas a ênfase no futebol se deveu por ser uma modalidade difícil de disseminar entre os gays”, conta Erico Santos, que presidiu o Comitê entre 2008 e 2017.


Natus (SP): ansiedade pelo primeiro torneio LGBTQIA+ (Foto: Arquivo Natus)

Nas atividades voltadas ao esporte mais popular e também mais LGBTfóbico do país, aspecto que justifica o trabalho pela inserção da população LGBTQIA+ nessa prática, Erico contou com apoio do Real Centro FC, equipe inclusiva precursora no Brasil, nascida em 1990.

“Isso (esse apoio) nos surpreendeu e permitiu que sugerisse ao grupo de futebol que seguissem como um time fora do Comitê, pois estava fora de nossa alçada a administração de equipes e agremiações, uma vez que, como entidade, o Comitê tinha como uma das prioridades organizar eventos, dando autonomia à equipes”, completa. Em uma próxima postagem aqui no blog você confere como nasceram o Real e outros grupos pioneiros na causa.

Em outras modalidades, como o vôlei e o handebol, por exemplo, essa reverberação ainda não acontecia da forma ocorrida no esporte que é a paixão nacional. Erico explica o motivo: "Esse boom começava no futebol, mas no vôlei e no handebol ainda não havia equipes declaradamente gays. No caso do vôlei, muitos sabiam que as equipes eram até 100% gays, mas não levantavam bandeiras nesse sentido, até por jogarem torneios tradicionais (não voltados para a diversidade)", conta, lembrando também a participação de integrantes cisheterossexuais nos Jogos. "Com a criação da LiGay e a postura de equipes levantarem a bandeira, foram criadas equipes de vôlei declaradamente LGBTQIA+. Os Jogos foram um divisor de águas nesse sentido".

UM DESEJO ANTIGO

Em 2017 o Natus já participava de torneios em que os atletas adversários não eram assumidamente LGBTQIA+, exemplo que muitos times Brasil afora também passaram a seguir, culminando com a participação do Bárbaros, também da capital paulista, em competições conhecidas no cenário do fut7 profissional, como a Taça do Governador de SP e a Liga Fut7, competição nacional pela qual enfrentaram o Flamengo, por exemplo. A participação nos Jogos da Diversidade, porém, veio como resposta a um antigo anseio do clube, como conta Jucimario Junior.

“Já queríamos um campeonato LGBTQIA+ há algum tempo e surgiu essa oportunidade”, afirma o atacante, que, ao ver no evento outras equipes com o mesmo propósito, testemunhou o embrião do que viria a se tornar um movimento nacional: “depois do pontapé inicial do primeiro torneio, imaginamos, pela quantidade de times e de pessoas interessadas em jogar, que teríamos um monte de grupos como esses pelo Brasil”.


                           Afronte (SP), fundado em fevereiro de 2017 (Foto: Arquivo Afronte FC)


Foi essa também a percepção de Lukas Spears, zagueiro e presidente do Afronte FC, mais um representante da causa, criado em fevereiro de 2017 e que também disputou aquela edição dos Jogos: “a partir do momento em que surgiam novos times trazendo jogadores que se sentiam apoiados por outros atletas, entendemos que isso tomaria uma proporção grande, com torneios frequentes”.

NO PRÓXIMO POST...

Um pouco mais sobre a contribuição dada pela imprensa ao movimento por meio da cobertura dos Jogos da Diversidade, memórias da repórter e apresentadora Gabriela Moreira sobre sua cobertura no evento, o título do Bulls (SP) dentro de quadra e a experiência do então caçula BeesCats (RJ) em sua primeira viagem para competir.

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